João Marcos

Porque acontecem conflitos na família?

pais exasperados em uma sessão de aconselhamento familiar com adolescentes chateadas
João Marcos Varella
João Marcos Varella

Psicólogo

Você pensa: “Somos uma família! Por que volta e meia discordamos uns dos outros?”

Se você decide assistir a um filme, escolher um restaurante ou planejar férias, já sabe
que pessoas da família irão discordar e que será difícil uma solução que atenda a
todos.

Muito mais complicado é quando você pensa em planejar o futuro da família e
envolver todos e não só você.

Como lidar com as diferenças entre as pessoas da mesma família?

Não é surpreendente como pessoas da mesma família possam ser tão diferentes e desenvolver interesses, expectativas e necessidades que não combinam?

Para entender um pouco a dinâmica das comunicações familiares, vamos observar e analisar uma cena doméstica por meio desta história.

COMO ACONTECEM AS RELAÇÕES ENTRE PAI E
FILHO

Vamos acompanhar esta cena entre pai e filho para observar como se comunicam:

Encontro entre o pai, Roberto, e o filho, Ernesto. Roberto é um empresário,
casado, tem dois filhos e Ernesto tem 23 anos e está concluindo engenharia.

Sexta feira, Roberto terminou uma semana cheia de desafios e tem planos
para relaxar e participar, no dia seguinte, de um churrasco no sítio de um
amigo.

Seu filho, Ernesto, aproxima-se e diz:

Ernesto: – Pai, bati o carro. Um ônibus deu uma raspada na lateral.

Roberto: – Você se machucou?

Ernesto: – Não, foi só o carro. (pausa) Pai, eu tenho um problema. Combinei
com a Marina de ir à praia neste fim de semana e ela já me espera.

Roberto: – Boa viagem. Vai com cuidado

Ernesto: – Pai, eu preciso do carro. Do seu carro.

Roberto: – Não vai dar. Eu tenho um compromisso. (Pausa)

SUSPENSE

Como terminará esse diálogo? Vamos examinar possíveis alternativas dessa cena.

Ambos expressaram suas necessidades, o que é uma boa comunicação, mas não
manifestaram os sentimentos associados e pode ter soado como uma exigência.
Vamos ver como continua. Estamos diante de necessidades conflitantes. A evolução
pode tomar caminhos muito distintos:

1ª ALTERNATIVA

Roberto: – Você bateu o carro outra vez? Foi mesmo o ônibus?

Ernesto: – Pai, foi como eu disse, o ônibus raspou meu carro. Eu estava
parado.

Roberto: – Foi essa mesma história que você contou da outra vez.

Ernesto: – Você sempre acha que tudo que eu faço está errado. É muito
difícil viver nesta família. Sai e bate a porta.

COMENTÁRIO – Pai expressa um julgamento. Filho se queixa e perde o controle.

  • É frequente que a comunicação entre pai e filho aconteça por meio de
    julgamentos o que provoca mágoa, comportamento defensivo, medo, culpa
    ou vergonha, além de ressentimento, baixa autoestima e até raiva.
  • Por outro lado, o descontrole manifesta falta de equilíbrio em situações de
    conflito, tensão e dificuldade em promover um ambiente agradável.
  • O “não” recebido provoca um sentimento negativo e não é visto como uma
    impossibilidade objetiva. O pedido não causou receptividade.

2ª ALTERNATIVA

Ernesto: – Tudo bem. Eu vou alugar um carro.

Roberto:- Você sempre distante e independente. Só vem conversar se
precisa de alguma coisa. Nem sei por onde você anda.

Ernesto: – Eu cuido da minha vida, não fico como meu irmão que
depende de você.

Roberto: – Pelo menos eu sei dele; de você, não sei nada.

Ernesto: – Pai, estou com pressa. Depois conversamos.

COMENTÁRIO – A família é uma forte rede de proteção se a comunicação funciona bem e os vínculos são fortes. Comparações geram conflitos.

  • Pode ser que nessa família a distância entre seus membros tenha
    aumentado com o tempo e deixado de acompanhar as realizações e as
    dificuldades uns dos outros.
  • Se o afastamento é resultado de uma independência forçada pelas
    circunstâncias, as necessidades podem ser desconhecidas. Nesse caso, o
    apoio e a solidariedade disponível são pequenos e a solidão aumenta.
  • Comparações favorecem conflitos e é um mau modelo de comunicação em família.
  • Assim sendo, a família não funciona como a principal rede de proteção de
    cada pessoa.

3ª ALTERNATIVA

Ernesto: – Não sabia que você tinha um compromisso. Você poderia ir de
taxi?

Roberto : – Não, mas tenho carona; é só eu telefonar.

Ernesto : – Você tem mesmo carona?

Roberto: – O meu problema é mais fácil de resolver do que o seu. Como
vai a Marina?

COMENTÁRIO

Escuta ativa, conciliação de necessidades.

Essa alternativa mostra uma conciliação de interesses sem conflito. Vamos aprender
com ela. Para tanto, foi necessário:

  • O pai teve uma escuta ativa e entendeu a necessidade do filho.
  • Por sua vez, o filho entendeu a necessidade do pai e pediu confirmação.
  • Quando as necessidades do outro são reconhecidas, a comunicação fica
    mais fácil e as pessoas gostam de ser escutadas.
  • A rede de proteção familiar permite conquistar objetivos e atender às
    necessidades.

COMO NASCEM OS CONFLITOS NA FAMÍLIA

Somos diferentes devido à nossa história pessoal, formadora da nossa identidade, da
nossa visão de mundo, construído pelas nossas experiências, conhecimentos e
interações em diferentes ambientes.

Você deve ter vivido situações, onde posições flexíveis superam os conflitos e
melhoram a comunicação, o relacionamento e o convívio.

Os conflitos nascem se você tem posições rígidas com relação a suas opiniões e não
consideram as posições dos outros.

Você reconhece que acontece assim?

É uma situação muito desagradável quando posições rígidas comprometem a
harmonia familiar com choques entre interesses, divergências de opinião disparidade
de posições e necessidades não atendidas.

O mais extraordinário é que o conflito permanece, passa a fazer parte da identidade
da família. Exemplo: “essa família tem um problema de relacionamento entre irmãos.
Como uma realidade imutável.

Surge até mesmo em situações simples, como por exemplo: “nesta família não se
pode assistir futebol com todos juntos”.

A situação é muito mais grave se envolve patrimônio e provoca conflitos entre irmãos
que defendem posições diferentes.

POR QUE OS FILHOS SÃO TÃO DIFERENTES?

Você já se envolveu numa situação onde outro membro da família não entendeu seu pensamento e seu sentimento sobre uma determinada questão? E esse desentendimento foi causa de um conflito?

Chamamos de empatia uma característica humana de entender o pensamento e os
sentimentos das outras pessoas.

Você já sentiu dificuldade em envolver as pessoas em seus projetos e não entende por que elas não se apaixonam pela sua ideia? Se, na sua opinião, as ideias são boas
por que os outros não concordam com elas?

Mesmo sobre boas ideias, como um passeio ou um jantar e até sobre questões muito
importantes como patrimônio, vínculos ou propósitos de vida, ocorrem posições
discordantes.

Como todas as pessoas você também é diferente de todos. Cada pessoa é diferente.

Se o caminho para uma convivência harmônica e produtiva é desenvolver empatia,
como fazer?

COMO DESENVOLVER EMPATIA E LIDAR COM CONFLITOS?

  • O primeiro desafio é perceber com clareza que pensamos e sentimos de forma diferente uns dos outros. Perceber e entender que o outro pensa e sente diferente, pode ser treinado.
  • O segundo desafio é aceitar que o outro possa ser diferente e, por consequência, lidar com nossas próprias convicções radicais. Já aconteceu de ficar indignado porque os outros pensam e sentem diferentemente de você e teve dificuldade em aceitar esse fato? Aceitar as diferenças requer flexibilidade de que falaremos em seguida.
  • O terceiro desafio é você lidar com essas diferenças sem perder o controle ou criar um clima de estresse. Como conviver com essas diferenças, conciliar propósitos e evitar conflitos?

Para começar, dar atenção. Ter uma escuta ativa. Você pode pedir uma confirmação
para checar se entendeu. As famílias precisam aprender a lidar com as diferenças ou
será difícil compartilhar propósitos.

EM QUE SITUAÇÃO O CONFLITO NA FAMÍLIA EMPRESÁRIA É MAIS GRAVE?

Algumas relações familiares podem evoluir para uma realidade de difícil convivência
ou de dificuldades para decisões em consenso.

Exemplos de situações em família que podem levar a um conflito:

  • Divisão de patrimônio entre irmãos
  • Separação do patrimônio num divórcio
  • Acordo de saída da empresa familiar
  • Concluir um inventário e decisão sobre a partilha dos bens
  • Definir a independência de núcleos familiares de nova geração
  • Consenso sobre sucessão.
  • Planos individuais de vida e carreira

Essas situações são desafios para

  • Manter o relacionamento familiar e pacificar o foco de conflito
  • Reduzir mágoas, ressentimentos e hostilidades.

Muitas vezes cabe a você intermediar uma solução para essas diferenças que se
manifestam em interesses, necessidades e expectativas. Provocam dificuldades de
relacionamentos que impactam objetivos comuns, atividades, vínculos, patrimônio e
propósitos de vida.

Se você já pensou em planejar o futuro da família pode ter se defrontado com a
questão sobre como chegar a um acordo sobre questões básicas para fazer algum
plano. Como ter objetivos comuns?

Se a comunicação é difícil ou se existem conflitos, pode ser necessária a ajuda de uma MEDIAÇÃO.

COMO LIDAR COM O CONFLITO EM FAMÍLIA?

A metodologia de Governança Familiar foi criada de forma a desenvolver na família os
pactos necessários para evitar os conflitos.

Entender a nova geração e a qualidade da comunicação são requisitos para que todos participem dos acordos para planejar o futuro da família.

No próximo capítulo, vamos abordar o pacto e começar por itens de relacionamento
como convivência, compartilhamento de bens comuns e benefícios.

Também um pacto sobre preservação do patrimônio, sobre liquidez e sobre a empresa
e o potencial de novos negócios.

Esses pactos previnem a grande maioria dos possíveis conflitos familiares.

Pactos familiares são caminhos para a construção do futuro da família pela metodologia da Governança Familiar como veremos no próximo capítulo.

Receba uma consultoria na area de Governança Familiar

Teremos uma reunião agendada online onde iremos tratar juntos sobre a sua família empresária!

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