João Marcos

Você quer entender a nova geração?

3 pessoas, sendo 2 meninas e 1 menino estão sentadas em uma escada de algum lugar aberto. Eles estão mexendo no celular e compartinhando sorrisos entre eles.
João Marcos Varella
João Marcos Varella

Psicólogo

Há momentos em que você não entende o que a nova geração quer da vida.

Como pai e empresário você se preocupa com o desenvolvimento, com a segurança e
o bem-estar da família que sempre foram seus objetivos realizados por meio da
preservação do patrimônio e do sucesso nos negócios.

E sempre foi sua expectativa a continuidade da família à frente dos negócios, mas
será que a nova geração corresponderá? E será que ela se desenvolveu para vencer
esse desafio?

Estará pronta para assumir responsabilidades e tomar decisões adequadas? Será feliz
e boa gestora de patrimônio?

São muitas as dúvidas para entender a geração dos seus filhos. Vamos acompanhar
algumas histórias para compreendê-los:

OS FILHOS SE INTERESSAM PELOS NEGÓCIOS?

Estas pequenas histórias de três pais dedicados aos negócios da família têm o
objetivo de expor, como acontece com frequência, a relação entre pai e filhos da nova
geração.

São pais que sempre proporcionaram bem-estar à família e excelente padrão de ensino aos filhos. Eles têm a expectativa de que seus filhos venham a se interessar pela empresa.

Será que é assim que acontece? Os casos relatam mensagens dos filhos a seus pais
e que se comunicam frequentemente por WhatsApp ou e-mail. Vamos ouvi-los:

CASO 1 – Pedro

Pedro é pai de Júlio, 20 anos e de Débora, 30 anos. Pedro sonha que seus filhos
trabalhem com ele na empresa. Está com 55 anos e espera comandar os negócios
ainda por muitos anos. Ele recebeu de seus filhos as seguintes mensagens:

Júlio (mensagem de áudio no WhatsApp)

Júlio — Pai, excelente esta clínica de tênis. Hoje aperfeiçoei o meu saque.
Acho que em breve você vai se orgulhar de mim. Você pode pedir para o
motorista me buscar aqui no clube? Ah! Não te contei ainda. Não deu de
novo no ENEM.

Débora (mensagem de texto no WhatsApp)

Débora – Pai, que saudade! Quero te contar que eu me achei. Estou muito
feliz. Vou ficar aqui na Flórida com meu namorado. Você vai gostar dele.
Eu queria falar com você também sobre a minha mesada. Te amo. Bjs.

Quando Pedro recebe essas mensagens, fica imaginando o motivo pelo qual seus
filhos não se interessam pelos negócios.

Pedro sabe que um dia eles serão gestores de seu patrimônio e precisam ter a competência necessária para esse desafio.

Ele tinha a expectativa de que Júlio fizesse uma boa faculdade e de que Débora
tivesse uma bonita festa de casamento. Ele gostaria de entender o pensamento de seus filhos e fazer alguma coisa para interessá-los.

Vamos ver filhos de outros pais.

CASO 2 – Alberto

Alberto está com 60 anos e dirige a empresa da família desde que tinha 20 anos e
começou ao lado de seu pai. Sua vida sempre foi dedicada aos negócios.

Alberto tem dois filhos que sempre foram excelentes estudantes. Cláudio, 25 anos,
formou-se em Mecatrônica e Pedro, 35 anos, fez mestrado sobre meio ambiente.

Alberto recebeu estas mensagens:

Cláudio (mensagem de texto no WhatsApp)

Cláudio: – Pai, por favor, não me peça mais para ir à empresa. Você sabe
que eu estou com amigos numa Aceleradora onde desenvolvo um startup.
Encontramos uma oportunidade num nicho de mercado na cauda longa.
Desenvolvemos o MVP, estamos projetando a escalaridade. Acreditamos
que será um unicórnio. Viva a 4ª Revolução Industrial. Ah! Vamos precisar
de investidores.

Pedro (mensagem de texto no WhatsApp)

Pedro:- Pai, estava pensando. Que bom que você construiu um patrimônio!
Isso vai permitir que eu realize meu projeto de vida. Eu quero me dedicar a
atividades de impacto social e vou poder graças a você. Quando puder,
venha me visitar aqui na praia. Quero falar sobre o meu plano de passar
um tempo na Índia. Aqui perto tem um restaurante vegano ótimo. Venha
almoçar comigo.

Alberto tem filhos muito diferenciados e sempre ficou orgulhoso dos resultados de seus estudos. Foram dedicados e cheios de propósitos, mas está muito surpreso porque eles não se interessam pela empresa.

Eles têm projetos de carreiras independentes e a sucessão da empresa ficou
comprometida.

Alberto está acostumado com o comando dos negócios onde suas ações obtêm excelentes resultados e ele não se conforma por não conseguir excelentes resultados também com os filhos e despertar neles o interesse pela empresa.

CASO 3 – Geraldo

Geraldo, 70 anos, tem uma empresa de porte grande que dirige há muitos anos. É pai de Antônio, 40 anos e de Marta, 45 anos.

Antônio (mensagem por e-mail)

Antônio – Pai, estou voltando. Concluí minha especialização em Inovação
em Harvard como combinamos. Você sabe que estudei Empreendedorismo na Babson College e fiz Wharton School of Business,
Gostaria de ter meu lugar no Conselho da empresa! Será possível desta
vez? Você sempre diz que não, porque eu brigo com todo mundo. Já me
mandou fazer um monte de cursos para eu ficar longe. Desta vez ou eu
vou para o Conselho ou então vou esquecer a empresa e dar outro rumo à
minha vida.

Marta (mensagem de texto no WhatsApp)

Marta – Pai, não dá mais. Há 20 anos que eu estou na direção da
empresa junto com você. Também já criei seus netos. Você sabe que eu
me casei de novo e quero ser feliz. Vamos vender a empresa. Se você
puder, distribua a minha parte. Quero viver e você também deveria
aproveitar a vida porque já trabalhou muito. Não quero mais brigar com
você. Pai, vamos usufruir!

Geraldo está numa situação difícil, porque já tem idade e gostaria muito de ter um
sucessor. A relação com os filhos está complicada, mesmo sendo eles maduros e
preparados para a sucessão.

Ele está diante de decisões que podem trazer grandes mudanças para sua vida e para
a empresa, mas não se sente seguro sobre seus filhos.

SOBRE AS MENSAGENS

Provavelmente essas mensagens são muito diferentes de situações vividas por você,
mas podemos aprender com elas.

Como esses pais sairão desse conflito entre suas expectativas e os interesses dos
filhos?

Esses pais vivem um período de forte incerteza. Uma situação com baixa
previsibilidade e controle.

Como você vê nessas histórias, todos os pais oferecendo oportunidades aos filhos,
mas os sentem distantes e, dessa forma, têm dificuldade em entender como eles
desenvolveram interesses pessoais diferentes dos seus.

É possível que você tenha se surpreendido com as mensagens recebidas pelos pais.
Calma, foi só uma ficção para demonstrar como os interesses dos filhos fogem do
controle.

Esses casos só reforçam seu pensamento de que é difícil entender a nova geração.
Você já procurou se informar sobre a geração X, a geração Y, a geração Z e até a
geração M?

Estamos vivendo a maior distância de pensamento entre duas gerações de todos os
tempos, devido ao impacto da tecnologia e da velocidade da informação.

Para entender a nova geração é preciso refletir sobre alguns pontos. O tempo passou
tão rápido que você não percebeu como ela viveu essas mudanças.

Seria bom ter uma metodologia de Governança Familiar para melhor lidar com essas
questões. Chegaremos lá.

Vamos ver primeiro o que essas gerações têm em comum e depois por que são
diferentes.

COMO É ESSA NOVA GERAÇÃO?

Assim como você e como acontece em quase todas as famílias, eles cresceram numa família que passou por uma série de ciclos, tais como: casamento, integração do casal, nascimento do primeiro filho, outros filhos, período de filhos em idade infantil, depois adolescentes, adultos e, por fim, a independência e a formação de novos
núcleos familiares.

Essa história familiar modelou as suas expectativas de pai com relação a seus filhos
Você se pergunta: será que eles se tornarão adequadamente independentes,
autônomos e responsáveis para tomar suas próprias decisões?

O QUE ACONTECEU COM MEUS FILHOS?

Vamos supor que seus filhos tiveram um bom desenvolvimento. Por exemplo:

  • Seus filhos foram expostos a desafios adequados ao seu potencial e
    conquistaram reconhecimento, autoestima, autoconfiança e iniciativa.
  • Eles também conquistaram, gradativamente, um espaço na família para se
    expressar e, com o crescimento, uma flexibilização na sua participação também fora
    da família.
  • Desde a infância seus filhos compartilharam a história da família, seu legado,
    valores, hábitos que construíram a identidade familiar. Também uma série de padrões de como a família pratica expectativas, julgamentos e desenvolveram valores e
    comportamentos.
  • Desenvolveram a consciência de que sua família é diferente das outras famílias
    e que tem, portanto, uma identidade familiar própria.
  • Aprenderam a conviver com eventos incidentais e imprevisíveis como
    acidentes, separação, doenças ou mortes e aprenderam a lidar com incertezas o que
    é uma forte contribuição para a maturidade.
  • Seu autoconhecimento se instalou com a interação com os pais. Não se trata
    de disciplina, controle, regras rígidas, mas observaram os pais como modelos pela convivência.

COMO MEUS FILHOS FICARAM TÃO DIFERENTES?

Parabéns! Seus filhos tiveram um excelente desenvolvimento. Caso fossem
superprotegidos e suas necessidades atendidas sem esforço próprio, não teriam essa
disposição de buscar novos desafios.

Essa independência desenvolvida, entretanto, está direcionada para interesses
distantes das suas expectativas. Como isso aconteceu?

A FAMÍLIA COMO UM SISTEMA ABERTO

A família funciona como um sistema aberto, onde cada um se relaciona com muitos
outros grupos de pessoas.

Por exemplo: você mesmo se relaciona com clientes, fornecedores, com sua equipe,
com outros empresários que manifestam ideias, opiniões, valores e comportamentos
diferentes dos seus.

Você tem contato com muitas formas diferentes de pensamento que provocam suas
reflexões. Dois resultados distintos podem ocorrer por força dessas reflexões:

  • Você seleciona e considera apenas o que reforça seus próprios
    pensamentos e mantém suas opiniões ao longo do tempo.
  • Outras vezes, você considera algumas ideias novas e muda alguns do seus pensamentos. Assim seu pensamento evolui e muda com o tempo.

COMO MEUS FILHOS DESENVOLVERAM
INTERESSES TÃO DIFERENTES DOS MEUS?

Com a independência, eles conquistaram espaço também fora da família. Participam
de outros grupos: a escola, os vizinhos, o clube, outros parentes e outros grupos
principalmente por redes na internet.

O mesmo mecanismo de exposição a diferentes visões de mundo que ocorre com
você, também acontece com seus filhos.

A diferença é que muitos dos seus pensamentos já estão estruturados e seus filhos
estão em fase de construção da própria visão de mundo e não têm um mecanismo
seletivo formado como o seu.

A independência de seus filhos se manifesta pelas escolhas, pela execução das
decisões e que exigirão diferentes competências, recursos e relacionamentos.

Muitas vezes eles ainda não são capazes de obter o que querem, porque não estão
prontos e, importante, nem sempre compreendem isso.

COMO RESGATAR O INTERESSE DE MEUS FILHOS?

O desafio é: o potencial para gerir o patrimônio e participar da sucessão fica restrito
pela dificuldade de assumir responsabilidade, tomar decisões, embora isso seja um
processo de mudança de comportamento que pode ocorrer pela participação na
direção dos interesses da família.

A chamada para o compartilhamento das decisões torna possível a compreensão dos
interesses comuns. Isso pode ajudá-los a entender que pertencem a uma família que
possui patrimônio e que eles serão gestores desse patrimônio, mesmo que não atuem
no negócio da família e que irão participar da Governança Familiar.

As pessoas mudam? A mudança de comportamento ocorre pela plasticidade do cérebro como nos ensina a neurociência, mas é preciso de estímulo.

Existe espaço para uma ação familiar conjunta para treinar comportamentos e
melhorar relacionamentos e construir a realização pessoal.

O QUE FAZER?

Abordamos alguns aspectos do ciclo evolutivo dos filhos que têm forte influência para
a prontidão do exercício da sucessão na empresa familiar.

Essa prontidão para tomada de decisões se constrói principalmente no convívio com a
família, mas não há um modelo perfeito, porque todos os pais e todos os filhos são
diferentes e sempre será uma relação única.

O que é básico é a importância do relacionamento e atenção às necessidades dos
filhos e permitir que eles superem seus desafios na medida de seus potenciais.

Agora que você viu que é possível entender melhor a nova geração, poderá
desenvolver sua Governança Familiar e planejar o futuro da sua família com a participação de todos, definir acordos e superar diferenças.

Para maior êxito nesse processo, um requisito é ter uma comunicação de qualidade.
Vamos cuidar da comunicação no próximo capítulo para superar as diferenças e lidar
com os conflitos.

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Teremos uma reunião agendada online onde iremos tratar juntos sobre a sua família empresária!

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