Estava lembrando como estava muito feliz na festa, cercado pelos meus netos, comemorando meu afastamento dos negócios, após 35 anos, dirigindo a empresa.
Sou Fernando, estou com 75 anos e deixei a empresa nas mãos dos meus filhos. Participo ainda das reuniões do Conselho de Administração como consultor convidado, depois de muitos anos, presidindo-o.
Foi um longo processo de inserção gradativa dos filhos na direção dos negócios. Lembro-me de como os chamava para acompanhar e entender minhas decisões estratégicas.
Lembro-me de que, na festa, toda a família estava reunida: minha segunda esposa Roseli com meu enteado Marcelo; meu filho mais velho, Gustavo, minha nora e seus três filhos, todos já adultos e formados; minha filha Gisela, seu marido Guilherme e suas duas filhas. Também meu filho George, minha nora Marília com meu netinho mais novo.
Todos estavam alegres. Tenho certeza de que o momento foi acertado para passar o comando da empresa. Tomei a decisão de me afastar para cuidar melhor da saúde e ter melhor qualidade de vida.
Sinto que cumpri minha missão, especialmente quando vejo a família reunida, os novos núcleos familiares formados e a alegria de meus netos.
NA MINHA AUSÊNCIA OS CONFLITOS CRESCERAM
Passados alguns meses, porém, fiquei preocupado. As diferenças entre meus filhos sempre estiveram presentes e eu, administrando os interesses com minha liderança.
Percebi também que essas diferenças ficaram amplificadas quando, subjacentemente, revelavam as opiniões das noras e do genro. Meu receio era que essa situação se intensificasse e prejudicasse a evolução dos negócios da empresa.
Quando imagino que um dia poderei não estar mais presente e que meus filhos possam dividir o patrimônio entre eles, a situação poderá ficar muito mais difícil.
Muitas alternativas já passaram pela minha mente, como por exemplo, tirar todos da operação e profissionalizar a empresa, ou então vendê-la e dividir o patrimônio para que cada um siga o seu caminho.
São decisões que não quis tomar sozinho e chocar as expectativas dos filhos. Acredito que meu estresse nos últimos tempos se deu devido a essas preocupações e por não encontrar um caminho.
Quando vi todos juntos aquele dia na festa, não tive dúvidas de que, por trás da alegria, havia um risco a ser cuidado.
É HORA DE BUSCAR AJUDA
No dia seguinte, após a festa, procurei meu amigo Frederico. Não falava com ele há mais de um ano. Sabia que ele também tivera problemas com a família e as últimas notícias eram de que todos estavam bem.
Contei a Frederico minhas preocupações e ouvi dele a história de como lidou com isso. Ele também não sabia como garantir a harmonia familiar e a preservação do patrimônio.
Foi quando tomou conhecimento de uma metodologia chamada Governança Familiar.
Nesse mesmo dia, conversei com meus filhos que reconheceram a necessidade dessa ajuda, e comprometeram-se com o projeto.
Com o apoio de um especialista, houve, inicialmente, a necessidade de todos os filhos entenderem as minhas preocupações. Além disso, a necessidade, também, de superar as objeções e obter o compromisso de empenharem-se numa aliança estratégica que beneficiasse todos.
Na sequência, foram fortalecidos os vínculos e a melhoria da comunicação.
A superação de diferenças foi um momento difícil, porque, como eu havia percebido, existiam diferenças entre eles, que não eram administradas, explicitadas e nem superadas. Permanecia uma agenda oculta e a insatisfação de todos.
Depois disso, foi possível estabelecer uma série de acordos familiares, ou seja, constituir um conselho de família e fazer um planejamento compartilhado do futuro.
A partir daí, ficou fácil a tomada de decisões e a implantação dos projetos aprovados. Fernando ficou muito feliz com essa possibilidade e agradeceu muito ao Frederico.